17.6.05
Durar e mudar: um duelo
O francês Henri Bergson foi um dos mais importantes filósofos do século 20 e todos os que estudam, ou conhecem filosofia, sabem disso. Seu Matéria e Memória é imenso como retrato da caminhada humana. Um outro livro seu, de enorme importância — A Evolução Criadora —, de 1907, acaba de ser lançado pela Martins Fontes. Nele, Bergson fala lindamente de um duelo nosso durante a passagem: entender que a vida é durar e mudar, que é movimento, atuação continuada, fluxo incessante, alteração e mutação seqüentes, mas é também continuidade, prolongamento, manutenção. Não é à toa que somos Uni-Verso, temos um compromisso de seguir, mas, também, de permanecer. Como pode acontecer isso num mesmo espaço? Essa é a grande sabedoria, a plena evolução criadora. Não podemos deixar de nos envolver com o novo, com que o chega a arejar os nossos quadros mentais, o que nos tira dessa Zona de Conforto, tão gostosa, mas que vai aos poucos nos bitolando. Temos que mudar, também, porque o mundo à frente nos pede isso, as exigências estão aí, não se pode ignorá-las e parar no tempo, mesmo que esse tempo seja uma preciosa reflexão. Essa idéia é vívida e real em nossa inteligência. O ficar num ponto só é o bloqueio para se dar conta da vida. Mas é preciso também permanecer, manter e assumir a maravilha dessa duração ordinária da existência. Até porque temos um passado que é vestígio e um material já vivido que não pode nunca ser desprezado. Seguir adiante, abandonando o existente, é a maior perda que alguém pode sofrer, um desperdício absurdo e idiota. Durar e mudar é a suprema essência do ser para Bergson. Isso nada tem de místico, de difícil, de misterioso. Como ele coloca, é apenas o convívio bonito e sutil da inteligência com o instinto. O ponto chave é a intuição: sentir dentro de si mesmo o que precisa constantemente ser mudado e o que deve ser mantido a qualquer preço. É isso que nos faz senhores da nossa própria vida, elevando-a a algo superior. Lindo, não? Eis porque ele é Bergson.
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