por Leandro Quintanilha
Descubra suas habilidades e invente um presente criativo para dar a quem você gosta
Há três anos, o programador Rodrigo Coin Curvo, de 25 anos, estava preocupado com a melhor amiga, Letícia. Os dois moravam em Campo Grande (MS), mas naquele ano ela passaria o aniversário sozinha em São Paulo, onde fazia um curso. Rodrigo resolveu, então, bolar um presente diferente para deixar a amiga mais animada. Dentro de uma caixa de madeira, montou uma dobradura de cartolina, parecida com aquelas dos livros infantis e dos cartões tridimensionais. Depois, inventou uma espécie de armadilha, acionada pela tampa da caixa, com um saquinho cheio de estrelinhas de papel metálico. Por fim, mandou a engenhoca pelo correio.
Descobriu o que era o presente do Rodrigo? Uma festa de aniversário! Ou melhor, a maquete de uma festa. Quando Letícia abriu a caixa, as estrelinhas brilharam ao vento e a dobradura emergiu, exibindo as figuras dos amigos diante de um bolo com velinhas. Havia até balões, de papel de seda, com votos de feliz aniversário uma surpresa e tanto.
As festas de fim de ano se aproximam e nós sugerimos que você, assim como o Rodrigo, escape dos shoppings lotados, economize uns trocados e experimente fazer um presente único para alguém. E, antes que você venha com o papo de que a vida anda corrida e você não tem jeito para a coisa, adiantamos: há zilhões de possibilidades que não tomam tanto tempo, mesmo para quem se considera um pouquinho desajeitado. A seguir, você pode se inspirar com histórias de gente que agradou muito e se divertiu um bocado com presentes feitos no tapete da sala de estar.
O Rodrigo nunca tinha feito nada parecido e descobriu que poderia fazer...fazendo. Mas você também pode pensar num presente em que aproveite seus talentos já consagrados. Uma vez, Rodrigo ganhou do irmão mais novo uma apresentação de slides feita no computador. Vinícius também manja de informática e montou uma divertida coletânea de piadas sobre a infância dos dois, recheada de fotos em que Rodrigo aparece com olhar de peixe morto e outros flagrantes do irmão cochilando no sofá. Vi os slides no trabalho e tive que me segurar para não chorar, confessa o homenageado.
Retrospectivas da vida afetiva são um ótimo tema para presentes personalizados. Não é à toa que lembrança é sinônimo de presente. Há dois anos, o administrador Bruno Papariello, de 25 anos, compôs e gravou uma música para a namorada Patrícia, que fazia aniversário. Estava sem grana, mas queria dar algo original, diz. Não gastou quase nada. Gravou a canção no computador de um amigo, inseriu algumas fotos do casal no CD e caprichou na capa. A música conta a história de um rapaz que vivia na farra até que, adivinhe, se apaixonou. Ela ficou derretida.
Com a sua grife
Hoje, pode parecer muito natural ir a um shopping center e comprar presentes em lojas. Mas isso é porque vivemos numa sociedade de consumo, inaugurada pela Revolução Industrial no século 18. Antes disso, o cavalinho de pau do filho era feito no quintal, com a madeira que sobrava da construção, e a boneca de pano da afilhada, ali na mesa da copa, com os retalhos das costuras da família. Os presentes de antigamente eram assim: simples nas matérias-primas, ricos no envolvimento.
Aniversários, Dia das Mães e dos Pais, Natal. As datas viraram corridas de consumo e presente funciona hoje quase como um ingresso para a festa. Uma obrigação chata. Por isso, o mercado criou cheques-CDs e vales-presentes, essas facilidades impessoais. Você poupa tempo, não se arrisca e resolve logo o problema. Presentes personalizados resgatam o significado da oferta, uma homenagem ou um mimo que a gente faz para demonstrar apreço, como explica a psicóloga Cecília Bellina. O valor que conta é o afetivo. E a grife... bem, a grife é você. Com a marca do afeto, você dá algo que não se pode comprar. E será uma peça exclusiva, olha que chique.
Julieta Rodrigues Pires Marto, de 70 anos, faz os presentes que dá desde que aprendeu a tricotar, há quadro décadas. A técnica é a mesma, mas as peças ficam sempre com a cara do homenageado. Bato o olho na pessoa e já sei as medidas, diz. As medidas e o gosto. Observar o estilo de quem se quer presentear é o primeiro passo para fazer algo que agrade, diz a consultora de imagem Alana Alves. Idade, sexo, atividade profissional, tudo deve ser levado em conta. É um exercício de empatia: tentar ver com o olhar do outro.
Mire-se no exemplo da dona Julieta, que só vai ao shopping para se inspirar. A cada vitrine, reconhece o estilo de alguém: um bolero que lembra a prima, uma estola que é a cara da sobrinha, um pulôver que cairia muito bem no filho. Depois, faz tudo em casa, cheia de esmero, com as cores favoritas dos felizardos e seu toque pessoal. Pode parecer um trabalhão, mas eu me sinto bem.
Parece terapia. E é, de fato, uma atividade terapêutica, garante a psicóloga Valéria Lasca. Fazer um presente é uma atividade concreta, com começo, meio e fim isso nos deixa mais centrados.
Brincadeira de criança
Com tantos projetos de longo prazo pendentes (progredir na carreira, entrar em forma, comprar a casa própria, encontrar o significado da vida), faz bem a sensação de concluir algo, ainda que seja um porta-lápis. Você fica mais confiante. E fazer algo para outra pessoa é essencialmente um gesto de generosidade.
Para a coordenadora de arquivo Valéria Giannoccaro, de 41 anos, fazer presentes artesanais é o antidepressivo mais efi caz contra sua antiga melancolia dominical. Agora os fins de semana sempre terminam com uma peça nova para um amigo ou um parente. Ela faz velas, sabonetes, mosaicos e bijuterias. Em outubro, seus presentes de Natal já estavam prontos. Eu me esqueço dos problemas, conta.
Valéria tomou gosto por trabalhos manuais na escola, quando fazia presentinhos para os pais nas datas comemorativas. (Os objetos desta reportagem são presentes feitos na infância de integrantes da redação e seus familiares). Um recurso pedagógico importante porque desafia a criança a superar imprevistos e a lidar com a frustração de não saber direito o que fazer, explica a educadora Adriana Friedmann, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento. Como nas brincadeiras, o processo é mais importante que o resultado.
Quando você faz um presente para alguém, essa pessoa o inspira e fica, por isso, presente. Você, por sua vez, dedica tempo e afeto à atividade. E fica no tempo presente. Fazer um presente é um presente para você também. Você merece.
Para embrulho
CRIATIVIDADE: Ao pensar num presente para alguém, coloque-se no lugar dessa pessoa. Procure algo que contemple alguma singularidade dela. Pense no que a agradaria e que não pode ser comprado em loja.
ALTERIDADE: Resista à tentação de fazer um presente como se fosse para você. Também não vale usar o mimo para tentar mudar o outro. Portanto, nada de confeccionar uma sandália rasteira para aquela sua prima executiva, hein!
PREPARO: Definido o presente, investigue os melhores materiais e técnicas para fazê-lo. Comece a elaborar com antecedência às vezes, algo dá errado e é preciso refazer tudo.
DIVERSÃO: Se encarar a atividade como tarefa a cumprir, ela perde o sentido. Sabe qual é a melhor motivação? O carinho que sente pela pessoa a quem pretende agradar. Mantenha isso em mente.
HUMILDADE: Elaborar um presente artesanal pode ser um exercício de humildade para principiantes. Aceite o fato de que o resultado pode não ficar tão bom quanto imaginava. Faça o seu melhor e fique tranqüilo: ninguém vai chamar o Procon.
CAPRICHO: Cuide da aparência da embalagem. Além de uma boa apresentação, esse capricho aumenta o suspense e deixa a surpresa ainda mais gostosa.